Este capítulo final da série aborda como os sujeitos do conhecimento, ou seja, os autores, podem produzir obras científicas de maneira criativa e autoral. O texto discute os processos de cognição, linguagem, escrita e a construção de discursos que, em conjunto, resultam em produções autorais inovadoras e reflexivas na pesquisa científica.
O ser humano é capaz de conhecer porque possui um sistema cognitivo complexo, que integra diversas habilidades essenciais. Conforme ilustrado no material, as principais habilidades cognitivas incluem:
Essas habilidades interligadas permitem que o indivíduo não apenas registre informações, mas também as interprete e utilize para produzir conhecimento de forma profunda e inovadora.
A linguagem é a ferramenta pela qual os seres humanos comunicam suas ideias e constroem o conhecimento. Ela vai além da simples transmissão de informações, permitindo que conceitos abstratos e complexos sejam compartilhados e reinterpretados coletivamente. Por meio da linguagem – que pode ser verbal, visual ou simbólica – conseguimos criar discursos que refletem nossa identidade e nossa visão de mundo.
Essa capacidade é demonstrada, por exemplo, na forma como construímos significados a partir de símbolos, emojis e até de gestos que, como o sinal verde de um farol, comunicam mensagens de forma imediata.
Escrever é um processo que exige mais do que simplesmente preencher uma folha em branco. A produção textual é um desafio que envolve a organização de ideias, a argumentação e a transmissão de uma subjetividade pessoal. Um exemplo emblemático deste processo é encontrado em Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
No romance, Machado de Assis inova ao apresentar um diálogo que se expressa por meio de pontuações – pontos, interrogações e exclamações – em vez de um discurso convencional. Essa técnica, que aparece no trecho denominado “O Velho Diálogo de Adão e Eva” (embora o diálogo seja, na verdade, entre Brás Cubas e Virgília), evidencia como a escrita pode transgredir formas tradicionais e construir significados por meio de uma estética própria. O uso de elementos gráficos para representar a comunicação demonstra que o texto não é apenas um meio de registrar informações, mas um espaço para a criatividade e a expressão pessoal.
A criatividade é essencial na produção de conhecimento, permitindo que os autores ultrapassem a mera reprodução de dados e desenvolvam novas interpretações. O capítulo utiliza como exemplo o quadro La Clairvoyance, do pintor surrealista René Magritte, para ilustrar que a criatividade transforma a realidade. Magritte não retrata um objeto de maneira literal; ele utiliza elementos visuais para sugerir significados que vão além da aparência imediata. Por exemplo, um objeto simples, como um ovo, pode ser reinterpretado na tela como um pássaro, simbolizando a capacidade de imaginar e criar o futuro.
Assim, a criatividade na pesquisa científica não exige originalidade absoluta, mas sim a habilidade de estabelecer recortes inovadores e de articular dados, teorias e experiências pessoais de maneira crítica e transformadora.
A autoria é a capacidade de produzir e assumir a responsabilidade por uma obra. Derivada do latim auctor, ela destaca o papel do criador na geração de conhecimento. No contexto da pesquisa científica, a autoria está relacionada aos processos criativos e à ideia de autopoiese, conforme proposto por Humberto Maturana e Francisco Varela.
Esses conceitos enfatizam que os autores não apenas reproduzem ideias, mas também as renovam e as adaptam, mantendo um ciclo constante de criação e autodesenvolvimento. A originalidade se manifesta na capacidade de integrar experiências pessoais, referências teóricas e análises críticas para construir um discurso que contribua para o avanço do conhecimento.
O capítulo conclui destacando que a autoria e a criatividade são elementos centrais na pesquisa científica. A produção do conhecimento não é um ato meramente técnico, mas um processo dinâmico e profundamente subjetivo que envolve a integração de capacidades cognitivas, o uso inventivo da linguagem e a transgressão de fronteiras simbólicas.
Ao unir a cognição com a expressão criativa – seja através da escrita, da pintura ou de qualquer outra forma de produção artística – o autor tem a oportunidade de construir discursos que não apenas informam, mas também inspiram e transformam. Assim, a pesquisa científica se torna um veículo de inovação, onde a criatividade é tão importante quanto a metodologia.